22.3.07

Sem Título (61)

Estás velho rapaz

Irremediavelmente velho

Velho gasto e acabado

Acabado de morto

Morto de morte comprovadamente matada

E na tua ufana vaidade

Nem dás conta da tua morte

Nem sentes o teu falso respirar

Agora mais não és que cancro e bosta

Fedes como cadáver retardado

Esquecido numa qualquer valeta

Abandonado de cabeça trucidada

Deixado na fossa do vómito maior

És metástase da tua própria metástase

Loucura celular

Náusea quimio-terápica no corpo em vómito

Abjecção exímia da existência ridícula

Justo final de quem nunca existiu

Absurdo nado-morto repugnante

Escarro humano

Asco supremo

Aberração monstruosa

Cadáver do cadáver adiado

Como te compreendo rapaz

Como me sinto pleno e teu igual

Em noites e dias tenebrosos

Em todo o breu da verdade de mim

Em meus efémeros e derradeiros instantes

Sou mais igual que teu igual

Sou a fossa profunda da abjecção

Dionísio Dinis